O mundo está a beira de uma enorme crise financeira. Todas as pessoas decidem se esconder dentro de caixas pretas que só se abrirão automaticamente quando as coisas melhorarem. Até que um dia a caixa de Vitória se abre e ela encontra um mundo em ruínas. Enquanto explorava as ruínas, descobre que várias crianças também foram despertadas e todas se reúnem na casa de uma senhora.
Ela conta uma história de um rei ganancioso que não contente de conquistar o mundo, também queria conquistar o tempo. Para isso, arruma uma arca mágica tecida com uma teia de aranha tão densa que nem o tempo pode penetrá-la e coloca ali sua filha. A princesa passa o tempo todo em uma espécie de suspensão, e sua arca só é aberta nos dias que o rei considera “felizes”. Privada de sua vida, o tempo passa para sua família, mas ela não envelhece e só vive pequenos instantes.
A história da senhora e a realidade que Vitória vive parecem muito similares, e aos poucos as crianças vão entendendo que precisam encontrar uma forma de salvar o mundo antes que seja tarde.
Enola vive com a mãe artista e não convencional, em um velho casarão da família. Criada com muita liberdade para os padrões vitorianos, e treinada na arte de anagramas, a menina não entende por que sua mãe escolheu seu nome Enola, que ao contrário significa Alone (sozinha). Sua mãe sempre diz que ela vai se virar bem sozinha. Após o sumiço da mãe no seu aniversário de 14 anos, deixando algumas pistas sutis para trás, Enola é obrigada a entrar em contato com seus dois irmãos bem mais velhos, Sherlock e Mycroft Holmes, que ela praticamente não conhece. Enola admira seu irmão Sherlock através das histórias escritas por Dr. Watson. Quando ela o conhece pessoalmente, descobre esse lado meio distante e machista. Mycroft é pior ainda, e só pensa no dinheiro que enviava para a manutenção do casarão e para a educação da irmã, e que aparentemente foi desviado pela mãe. Subestimada pelos irmãos, que ficam horrorizados com o estado da casa – e de Enola -, decidem enviá-la para um colégio interno depois de arrumar algumas roupas decentes para a menina. Os irmãos mais velhos concluem que a mãe sumiu por vontade própria e não se esforçam em encontrá-la. Porém Enola decide continuar a busca de sua mãe, e tem outros planos para essas roupas…
Esta é uma série infanto-juvenil que conta a história de Enola Holmes, a irmã muito mais jovem de Sherlock e Mycroft Holmes. Ela existe no canon oficial de Sherlock? Não, é uma criação desta série de livros, embora outros pastiches ou “fanfics” inspiradas nos livros de Sherlock utilizem desta mesma ideia de uma irmã mais nova. Em exemplo é na série Sherlock da BBC, que revela uma irmã mais nova chamada Eurus. (spoiler? já passou um tempinho né? hahaha)
Um bom pastiche de Sherlock Holmes. A leitura é bem rápida, mas um pouco confusa, pois acaba tratando de dois sumiços: da mãe de Enola e do jovem marquês do título. A representação de Sherlock e Mycroft é bem fiel aos livros, e a ambientação é bem feita. A descrição das vestimentas vitorianas é bem detalhada e seus múltiplos usos bem original. Um ponto positivo: Enola é uma detetive independente dos irmãos, que aparecem muito brevemente no livro, criando assim uma possibilidade de histórias originais, sem se apegar tanto ao canon de Sherlock. O livro acaba rápido e completamente em aberto para novas histórias da série, que pretendo continuar a ler.
Esta série de livros está sendo adaptada em filme pela Netflix, com Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin e Helena Bonham Carter.
Enola Holmes, filme da Netflix. Millie Bobby Brown (Enola), Henry Cavill (Sherlock) e Sam Claflin (Mycroft).
James Watson ganhou uma bolsa de rúgbi para um colégio em Sherringford, uma escola de Connecticut, Estados Unidos. James vive em Londres com sua mãe, separada do seu pai há anos. Coincidência ou não, Watson vai estudar em uma escola que fica há uma hora da casa do pai que ele não vê desde a separação, e não quer saber dele. As coisas seriam horríveis, se ele não tivesse feito alguns amigos e conhecido Charlotte Holmes. Watson segue a vida de Holmes através da imprensa e é obcecado por ela. Charlotte soluciona crimes desde criança, afinal é uma Holmes (a desculpa da autora para tudo o que acontece neste livro). James escreve um diário e sonha em ser um grande escritor, afinal é um Watson. As famílias Holmes e Watson ainda mantém certo contato, pois são os descendentes dos célebres Sherlock Holmes e John Watson, mas os dois jovens nunca se encontraram. Até que um crime acontece no colégio.
Uma visão moderna dos clássicos contos de Sherlock Holmes. Porém não espere muito. A autora esquematiza cada crime (não são muitos) em homenagem a um conto, e tenta com todas as forças relacionar os dois jovens à grande dupla clássica. Mas não deu nem um pouco certo. Lembra um híbrido entre Cidades de Papel do John Green e a série Sherlock da BBC. Mas não no bom sentido. Holmes e Watson são personagens insuportáveis, e a autora eleva exponencialmente a arrogância de Holmes e o servilismo de Watson, que vive passando um pano para tudo, mesmo sendo constantemente humilhado. Previsivelmente, os Moriarty entram na conta, criminosos geniais, mantendo a tradição do Professor Moriarty. Apesar de ser um livro young adult que supostamente pode ser lido por quem não leu Sherlock, não senti que esse é o caso. A autora conta muito que o leitor tenha pleno conhecimento dos contos de Conan Doyle, pois suas vagas descrições do original não ajudam a entender o contexto que foram utilizados neste livro. A narrativa tem problemas, os personagens são mal desenvolvidas, é muito corrido e maçante ao mesmo tempo. Um livro duas estrelas para mim, e ganhou a segunda porque a premissa era boa, e a autora parece ter um amor verdadeiro pelas histórias de Sherlock. É o primeiro livro de uma série, que também ganhou uma versão mangá. Não pretendo continuar.
Em Treze, acompanhamos os dois personagens principais que atravessam dificuldades na vida e, ainda por cima, não possuem uma existência que faça sentido. Depois da morte de seu pai, Rebecca vê a sua mãe retornando à antiga vida de criminosa. Já Karl, que no passado foi um vitorioso lutador de MMA, com o mundo em suas mãos, passa por uma amarga decepção. Rebecca, de maneira metafórica, está presa no passado de sua mãe. Karl deixa sua vida de glórias para trás, pois estas não importavam mais depois de passar por uma grande decepção. É interessante que o livro mostra as várias dificuldades passadas na vida particular tanto do ponto de vista Rebecca como no de Karl. Eles são pessoas com seus próprios problemas, defeitos e qualidades, porém os dois se adicionam no sentido que podem apoiar-se mutualmente. No final, essas dificuldades acabam unindo os dois ainda mais. E isso é o que me impressionou muito na história. O enredo de Treze te prende do começo ao fim, por isso eu aconselho que, no meio da leitura, é bom parar para respirar. A sorte é um tema bastante recorrente, mas não pense que o livro se limita apenas a narrar os acontecimentos complicados das vidas dos personagens. Vai além, nos mostrando que no meio de tantas dificuldades, no meio do vazio que podemos encontrar no espírito, ainda é possível encontrar uma pessoa que mude tudo isso.