O Dr. Rieux vê um rato morto na porta de sua casa. Pouco tempo depois, todo o povo da cidade de Oran, na Argélia passa por uma situação que ninguém imaginava: a volta da peste bubônica. Isolados do resto do mundo, a cidade tenta conter o contágio, aplicando medidas sanitárias e quarentena. Os personagens sofrem com as consequências, como o medo, a claustrofobia e o isolamento. Cada um reage à sua forma. No meio do caos, a resiliência humana é testada, pondo em perspectiva a frágil condição humana, o amor, a esperança e a vida.
Publicado em 1947, A Peste é considerado o melhor livro de Albert Camus. Este livro é uma alegoria do sofrimento da França sob ocupação nazista. Voltou aos livros mais vendidos nos últimos tempos devido à pandemia. Lendo este livro podemos encontrar muitas semelhanças com o nosso cotidiano dentro de uma pandemia, a forma que lidamos com o isolamento e suas consequências. Uma leitura envolvente e reflexiva.
Leitura de Agatha Christie organizada pela página oficial @officialagathachristie O tema do mês de julho é “uma história com um personagem baseado em uma pessoa real. Escolhi “O Homem do Terno Marrom”. A jovem Anne Beddingfield vai à Londres em busca de aventuras. Um acidente na linha do metrô, o misterioso homem de terno marrom e uma pista fazem Anne perseguir a trilha do assassino. 💬 Publicado em 1924, primeiro foi serializado em The Evening News com o título Anna, the Adventurous. 💬 Uma história com Coronel Race, um personagem recorrente de Agatha. 💬 O personagem Eustace Pedler é baseado em Major E A Belcher um chefe e amigo do primeiro marido de Agatha, que demandou ser colocado em um livro. Ele também é o organizador de uma viagem que o casal fez em 1922, muito similar às viagens deste livro. 💬 As £500 que Agatha recebeu por este livro pagaram seu primeiro carro. 💬 Adaptado uma vez como um filme para TV. Eu acho uma péssima adaptação. 😕
Enola vive com a mãe artista e não convencional, em um velho casarão da família. Criada com muita liberdade para os padrões vitorianos, e treinada na arte de anagramas, a menina não entende por que sua mãe escolheu seu nome Enola, que ao contrário significa Alone (sozinha). Sua mãe sempre diz que ela vai se virar bem sozinha. Após o sumiço da mãe no seu aniversário de 14 anos, deixando algumas pistas sutis para trás, Enola é obrigada a entrar em contato com seus dois irmãos bem mais velhos, Sherlock e Mycroft Holmes, que ela praticamente não conhece. Enola admira seu irmão Sherlock através das histórias escritas por Dr. Watson. Quando ela o conhece pessoalmente, descobre esse lado meio distante e machista. Mycroft é pior ainda, e só pensa no dinheiro que enviava para a manutenção do casarão e para a educação da irmã, e que aparentemente foi desviado pela mãe. Subestimada pelos irmãos, que ficam horrorizados com o estado da casa – e de Enola -, decidem enviá-la para um colégio interno depois de arrumar algumas roupas decentes para a menina. Os irmãos mais velhos concluem que a mãe sumiu por vontade própria e não se esforçam em encontrá-la. Porém Enola decide continuar a busca de sua mãe, e tem outros planos para essas roupas…
Esta é uma série infanto-juvenil que conta a história de Enola Holmes, a irmã muito mais jovem de Sherlock e Mycroft Holmes. Ela existe no canon oficial de Sherlock? Não, é uma criação desta série de livros, embora outros pastiches ou “fanfics” inspiradas nos livros de Sherlock utilizem desta mesma ideia de uma irmã mais nova. Em exemplo é na série Sherlock da BBC, que revela uma irmã mais nova chamada Eurus. (spoiler? já passou um tempinho né? hahaha)
Um bom pastiche de Sherlock Holmes. A leitura é bem rápida, mas um pouco confusa, pois acaba tratando de dois sumiços: da mãe de Enola e do jovem marquês do título. A representação de Sherlock e Mycroft é bem fiel aos livros, e a ambientação é bem feita. A descrição das vestimentas vitorianas é bem detalhada e seus múltiplos usos bem original. Um ponto positivo: Enola é uma detetive independente dos irmãos, que aparecem muito brevemente no livro, criando assim uma possibilidade de histórias originais, sem se apegar tanto ao canon de Sherlock. O livro acaba rápido e completamente em aberto para novas histórias da série, que pretendo continuar a ler.
Esta série de livros está sendo adaptada em filme pela Netflix, com Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin e Helena Bonham Carter.
Enola Holmes, filme da Netflix. Millie Bobby Brown (Enola), Henry Cavill (Sherlock) e Sam Claflin (Mycroft).
James Watson ganhou uma bolsa de rúgbi para um colégio em Sherringford, uma escola de Connecticut, Estados Unidos. James vive em Londres com sua mãe, separada do seu pai há anos. Coincidência ou não, Watson vai estudar em uma escola que fica há uma hora da casa do pai que ele não vê desde a separação, e não quer saber dele. As coisas seriam horríveis, se ele não tivesse feito alguns amigos e conhecido Charlotte Holmes. Watson segue a vida de Holmes através da imprensa e é obcecado por ela. Charlotte soluciona crimes desde criança, afinal é uma Holmes (a desculpa da autora para tudo o que acontece neste livro). James escreve um diário e sonha em ser um grande escritor, afinal é um Watson. As famílias Holmes e Watson ainda mantém certo contato, pois são os descendentes dos célebres Sherlock Holmes e John Watson, mas os dois jovens nunca se encontraram. Até que um crime acontece no colégio.
Uma visão moderna dos clássicos contos de Sherlock Holmes. Porém não espere muito. A autora esquematiza cada crime (não são muitos) em homenagem a um conto, e tenta com todas as forças relacionar os dois jovens à grande dupla clássica. Mas não deu nem um pouco certo. Lembra um híbrido entre Cidades de Papel do John Green e a série Sherlock da BBC. Mas não no bom sentido. Holmes e Watson são personagens insuportáveis, e a autora eleva exponencialmente a arrogância de Holmes e o servilismo de Watson, que vive passando um pano para tudo, mesmo sendo constantemente humilhado. Previsivelmente, os Moriarty entram na conta, criminosos geniais, mantendo a tradição do Professor Moriarty. Apesar de ser um livro young adult que supostamente pode ser lido por quem não leu Sherlock, não senti que esse é o caso. A autora conta muito que o leitor tenha pleno conhecimento dos contos de Conan Doyle, pois suas vagas descrições do original não ajudam a entender o contexto que foram utilizados neste livro. A narrativa tem problemas, os personagens são mal desenvolvidas, é muito corrido e maçante ao mesmo tempo. Um livro duas estrelas para mim, e ganhou a segunda porque a premissa era boa, e a autora parece ter um amor verdadeiro pelas histórias de Sherlock. É o primeiro livro de uma série, que também ganhou uma versão mangá. Não pretendo continuar.
Orlando foi lançado em 1928 e cimentou o status de Virginia Woolf como escritora e como mestre do modernismo.
Estruturado como uma biografia, o livro conta a história de Orlando, um nobre inglês que após algum tempo em sua vida, acorda como uma mulher. E mais extraordinário, Orlando vive por mais de 300 anos. Nesta narrativa, acompanhamos a passagem do tempo no ponto de vista de um personagem “imortal”, as mudanças políticas e sociais da Inglaterra, e as dúvidas e dificuldades o processo de escrita, pois Orlando passa todo esse tempo escrevendo seu grande romance, e entrando em contato com grandes escritores. A transição do gênero de Orlando é encarada de forma bem natural por ela, e com muita ironia descreve o que mudou na sua nova condição como mulher, principalmente como o mundo passa a tratá-la. Uma fantástica exploração do eu, Orlando é considerada por muitos como o primeiro livro a retratar um personagem trans na língua inglesa.
Orlando é inspirada em Vita Sackville-West, uma escritora contemporânea de Virginia, com quem manteve um relacionamento extraconjugal durante anos. Muitas passagens do livro são inspiradas na vida de Vita, que vinha de uma família rica e tradicional.
O tema do mês de junho é “uma história que se passa em algum lugar onde Agatha viveu”. Escolhi “O Hotel Bertram”.
Miss Marple vive em sua cidadezinha, mas de vez em quando viaja, sempre incentivada por seu sobrinho. Desta vez, ela está visitando o Hotel Bertram, que conserva o brilho e respeitabilidade dos antigos hotéis, que Marple lembra de sua juventude. Claro que o mistério segue Marple por toda parte, mas nem ela poderia prever as consequências da entrada de um excêntrico hóspede, desencadeando eventos que vão estragar o verniz de perfeição do hotel.
O Hotel Bertram é ficcional, mas foi baseado provavelmente no Hotel Brown em Londres, um hotel que Agatha frequentou. Outro hotel que pode ter servido de inspiração é o Mayfair, também em Londres.
At Bertram’s Hotel (2007)
Adaptada para a série Marple com Geraldine McEwan, em 2007. Esta versão, assim como praticamente todos os episódios desta série, é bem diferente do livro. Uma das atrizes neste episódio é Francesca Annis, que interpretou outra detetive de Agatha, a Tuppence Beresford, na ótima série Partners in Crime nos anos 80.
Um livro de contos sempre é uma surpresa. E nesse caso, esta leitura foi uma surpresa maravilhosa. O autor tem grande habilidade com as palavras, sabe focalizar muito bem as ações e os momentos certos de cada acontecimento da vida. A maneira os contos foram organizados traz ao leitor visão importante, crítica e até mesmo uma nova luz sobre algumas ideias até mesmo escondidas com o tempo. Contos que não trazem uma “moral da história”, mas despertam sentimentos diversos: você ri, fica com raiva, sente uma angústia incrível, mas entende que todos estes sentimentos que o autor faz aflorar na leitura é uma maneira de ver no livro o verdadeiro espelho da vida. O autor é professor de história, uma matéria que todo dia está sendo escrita, cada dia cheio de reviravoltas, e traz esse conhecimento para sua escrita, muito representativa dos tempos que estamos vivenciando. Todos os contos são marcantes, em especial citaremos o conto “A lebre que virou raposa”, que traz uma metáfora muito interessante, uma verdadeira fábula em uma visão moderna. Este não é um livro para ficar apenas em uma estante, e sim sempre ser revisto, estudado e trabalhado, principalmente dentro de uma sala de aula.
Bridget Jones tem trinta anos, vive em Londres e está em um momento de crise. Problemas de peso e vício em cigarro e álcool e principalmente, sua obsessão com a vida amorosa são relatados em seu diário. O livro é estruturado desta forma, e Bridget começa com suas resoluções de ano novo e vai anotando o que aconteceu, quantos cigarros fumou, seu peso atual, devaneios e frustrações. A leitura do diário vai revelando se ela alcançou suas metas. Bridget tem amigos que a apoiam, uma mãe meio desajustada que quer casá-la com um homem rico logo e um pai simpático. E vive confusa entre Mark Darcy, amigo de infância e Daniel, seu chefe. Bridget passa por muitas situações ridículas, vive reclamando em seu diário, mas o conjunto todo é muito divertido. O livro foi publicado em 1996, e continua atual, já rendeu adaptações para a TV e é o primeiro de uma série. Um clássico moderno, inspirado em Orgulho e Preconceito.
O Enigma é uma fascinante história sobre um vídeo vazado na internet. Muitas pessoas assistem este vídeo em diversos aparelhos e aplicativos, com um final muito estranho, envolvendo uma charada. Alguns personagens até resolvem o Enigma, mas a resposta é um pequeno princípio para a trama, e eles não tem a menor ideia do que vai acontecer depois.
Durante o decorrer das páginas você se envolve cada vez mais com a trama, e sempre é surpreendido quando menos espera. Quando você pensa que o livro está encerrado e os dilemas serão resolvidos, doce ilusão: o livro tem muito mais a dizer. Para quem gosta de mistério, histórias fantásticas, lendas e terror, O Enigma é um mistério muito saboroso, cheio de caminhos que você nem tem ideia de onde vão chegar. É surpreendente. A resposta que você achava que era a certa não era realmente a resposta. O autor se utiliza de um recurso interessante: sua ideia veio de um sonho que deu origem a este livro. Uma leitura muito fluida e instigante.
Neste mês de maio dividimos a leitura coletiva em quinzenas, então aproveitamos para ler mais um livro de contos de Lygia Fagundes Telles. A segunda quinzena está com Virginia Woolf e Mrs. Dalloway.
O grupo de leitura do Duende Leitor, “Uma mulher por mês” continua aberto para participação, a qualquer tempo durante o ano de 2020. Entre em contato conosco por duendeleitor@gmail.com ou através do direct no Instagram, e enviaremos o link do grupo no Whatsapp.
A noite escura e mais eu: uma experiência literária
A noite escura e mais eu é um livro que reúne nove contos, e foi lançado em 1995. É considerado uma das melhores coletâneas de seus contos, junto com Antes do Baile Verde (1970). Os temas dos contos são o medo, a solidão, amor, morte, velhice. Esta é uma coletânea repleta de mistério e contos mais sombrios. Também é marcada por narradores inusitados como o cachorro em Crachá nos dentes e o anão filósofo de Anão de Jardim, o melhor conto deste livro. Os sentimentos dos personagens são explorados nas histórias, seus pensamentos e tragédias particulares, mas também desejos e esperanças. O incrível em Lygia é a reflexão que casa história traz, e a permanência delas. Você termina de ler o conto, mas continua a vivenciá-lo. Por isso é tão bom discutir os contos de Lygia em uma leitura coletiva, trocar impressões e pontos de vista, debater as ambiguidades. A história tem um significado para casa leitor, e trocar experiências traz um enriquecimento maior de nossa experiência de leitura.
O título da obra foi retirado de um verso de “Assovio” uma poesia de Cecília Meireles.
Depois de duas leituras incríveis de Lygia Fagundes Telles, não podemos deixar de recomendá-las a todos.: este A noite escura e mais eu e Antes do Baile Verde.
Lygia Fagundes Telles
Nasceu em São Paulo em 19 de abril de 1923, morou durante sua infância no interior do estado. De volta à capital, concluiu seus estudos e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo, onde se formou. Começou a escrever cedo, e publicou sue primeiro livro de contos Porão e sobrado em 1938, ainda na adolescência, que foi bem recebido pela crítica. Apesar disso, a escritora considera seus primeiros livros “juvenilias”, e acredita que Ciranda de Pedra , de 1954, é o marco inicial de suas obras completas.
Lygia Fagundes Telles
Cronologicamente, Lygia está na geração modernista de 1945, ao lado de escritores como Clarice Lispector, Rubem Braga e Guimarães Rosa. Com sua amiga Clarice, exploraram o universo feminino moderno em suas obras, rompendo com o moralismo que deixava as mulheres à margem da figura masculina. Trouxe temas polêmicos para sua obra, como adultério, drogas, problemas sociais. Seus romances tendem mais para a literatura realista, enquanto alguns de seus contos lembraram o estilo de Edgar Allan Poe, em um estilo mais romântico e fantástico. Lygia considera Machado de Assis como uma influência na sua escrita.
Lygia foi eleita para a Academia Brasileira de Letras em 1985. Recebeu muitos prêmios ao longo de sua carreira, inclusive o Camões, em 2005, o prêmio mais importante da língua portuguesa.